As-coisas-e-seus-tempos
As coisas e seus tempos

por Luciana Pinsky

Quebrou a prateleira da geladeira. A maçaneta da porta da frente caiu. Vazamento no banheiro. Copo estilhaçado. Depois do terceiro, parei de contar. Saleiro, troco todo mês. O ferro de passar já era, assim como o aspirador de pó. A máquina de lavar, praticamente nova, não seca mais. Minhas roupas rasgam, a sola do sapato solta, a alça da mala descostura. O celular e o elevador travam, o sistema operacional do computador não atualiza mais. A bateria do livro eletrônico foi embora antes do fim da história e a do carro não durou um ano.

Enquanto isso, a bicicleta acaba de completar 25 anos. Nem pneu fura. Em perfeitas condições está também o livro de capa roxa que comprei e devorei no primeiro ano da faculdade. Ele ainda me emociona. E aqueles óculos escuros que ganhei outro dia prometem.

Equilibrando-me na ciclovia carcomida da cidade penso que tinha de ser assim mesmo. Afinal, as coisas são mais ou menos como os amores e as amizades.

(Ilustração: Thomás Camargo Coutinho – http://www.flickr.com/photos/thomastaipa/

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