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Cinco minutos

Por Luciana Pinsky

A tensão espreitava há dias. Ele não conseguia encará-la sem um riso nervoso. Ela usava a ironia com excessiva frequência, talvez para simular uma tranquilidade distante.

Quase não se falavam a sós, sempre cercados por tantos, sorrisos e afagos genéricos. Ainda assim, a tensão estava lá, óbvia para ambos, invisível aos demais.

Até que. Sim, tem um ‘até que’, pois tensão explode,  acaba ou ambos.
Depois de dias nervosos, eles se encontram por acaso do outro lado da cidade, onde os tantos das rodinhas jamais iriam. Mas foi por acaso mesmo?, o leitor há de me perguntar. Pois a coincidência era os dois gostarem de graviola, casarões históricos e saberem que a melhor sorveteria da cidade ficava em um bairro popular a 30 minutos do congresso.

– Oi.
– Oi.
– Adoro graviola da Ribeira.
– Imperdível!

E sem um pingo de vergonha,  ironia histriônica, riso compulsivo, ambos conversaram. E conversaram. Tanto, até quase não haver tempo. Será?
Foram. E a tensão, que só aumentara na conversa, não explodiu. Não acabou. Escondeu-se nos lençóis atônitos com a rapidez do epílogo.

(Ilustração: Thomás Camargo Coutinho – http://www.flickr.com/photos/thomastaipa/

Este post tem 7 comentários

  1. Uma maravilha o encontro entre sorvetes, casarões e, enfim, lençóis. E um parabéns para as ilustrações, também sempre sensacionais. Esperar um mês pela próxima?

    1. Pois é… aí a vontade ler aumenta… Ou não? Beijão, Marli.

  2. será que é tão fácil encontrar gente que goste de graviola?????
    muito bom, Lu, conciso e consistente!!!

    1. Sorvete de graviola é marcante: azedo e doce. Beijo!

  3. E viva a graviola!

  4. Ela que dá a graça para a crônica, né? Sempre fui fã de prosopopeia e finalmente consegui usar! (qual livro do Oz você está lendo?)

  5. É feliz, é?

Comentários encerrados.

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