invasao
Invasão

por Luciana Pinsky

Quem é você para invadir-me assim? Nestes tantos anos de vida sempre tive muito bem determinado meu espaço, minha vida, minhas coisas. E deixei bem claro que não, não a queria a pouca distância.

Preciso saber os passos que dou, quem sou, preciso prever o amanhã. E você, de você, nunca soube nem do próximo minuto. Você achava por bem me sequestrar, me cercear, me encher de perguntas, me deixar em perigo. Em extremo perigo.

Em algum ponto, porém, você foi abandonando seu ar fatal, e, ai que idiota, relaxei. Bastou para você, perigosamente, forçar minha porta.

– Me deixe entrar – exige.  

Como assim, se sempre agi para evitar sua invasão? Para jogá-la a milhas e milhas de minhas tantas portas, de meus pés, de minhas mãos. Dos meus ombros.

Como assim, se o ambiente está equilibrado, a cama feita e só falta o banho frio para me acordar de vez?

– Não. Mas falo tão baixo que não me ouço.

(ilustração de Thomás Camargo Coutinho)

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