Brrr…. De novo?
A porta. Feche a porta, por favor. Mas é inútil, não me ouve, nem adianta reclamar. A porta que eu cuidadosamente encostei está de novo aberta trazendo de fora ar gelado que casaco nenhum barra. Não entendo isso: será que não a vê encostada? Custa muito deixá-la tal como encontrou?
Aparentemente sim. Por que ninguém passa impunemente, sem deixar atrás de si uma brisa que me ameaça? O mesmo vento que afasta poluição pode ser tufão com potencial de perda total. Sou pura pele e, leve, não posso com vento.
Nunca pude. Sempre me ressenti de não saber
cair. Equilibrava-me com determinação, mas ventou, arrisquei-me e caí feio,
difícil, hospital, ortopedista, cama. Músculos atrofiados, a pouca força me
abandonara; sem equilíbrio eu cambaleava. Bêbada, experimentei tanto até que,
cansada, voltei à prudência, fechei portas a me gelar, encontrei o meu
quentinho.
E cá estou eu tentando manter o ambiente
agradável, não concordo nem compactuo com quem insiste em abrir portas e deixá-las
escancaradas.
Chega deste entra e sai inconsequente. Feche a porta. Fechem todas elas. Preciso dormir aquecida.
(Ilustração: Thomás Camargo Coutinho – http://www.flickr.com/photos/thomastaipa/)
Este post tem 6 comentários
Marli Gonçalves
16 jul 2019LUCIANA!!! que delicia! Também não posso com esses ventinhos cortantes que nos açodam. Também não posso com, inclusive, portas que batem, e com pessoas que batem portas. Um dia entenderei o que me causam. talvez a sensação de um tapa na cara. As portas deveriam sempre ser suavemente cerradas, como suaves foram suas palavras… Beijos meus, Marli
Luciana Pinsky
17 jul 2019Pois é, Marli, todos nós ganharíamos com suavidade! beijo
Ro
16 jul 2019O melhor da porta fechada é escutar um “toc toc toc” inesperado e sentir a força do vento na cara ao aventurar-se em uma espiada.
Luciana Pinsky
17 jul 2019E aí, Rô, você já remete à crônica anterior, “Invasão”!
Luciana Pinsky
17 jul 2019Leny, muito obrigada. É sempre uma delícia contar com sua leitura.
Luciana Pinsky
17 jul 2019Obrigada, Eliana. Você é uma leitura muito especial!