infinito enquanto
Infinito enquanto rede

por Luciana Pinsky

Era tudo uma brincadeira, como já disse o compositor. Um “oi” rápido, um sorriso, um aceno, sempre esporádicos. A frequência foi aumentando, a conversa, evoluindo, surgiram confidências. Encontros. Raros, é verdade, mas sempre muito desejados. 

Depois de meses só virtuais, voltariam a se ver. Ficaram duas semanas marcando o encontro, acertando lugar, horário. Chega o dia:

– Tudo certo, 8h?

– …

– Tudo certo, G., 8h lá?

– …

– G?

Na terceira tentativa, o perfil dele esvaiu-se: onde antes era um sorriso, agora só havia cinza. Ela percebe que está bloqueada no WhatsApp. No Facebook, ele a eliminara. Instagram, apagou a conta. Não havia como ela alcançá-lo. Foi uma faxina completa. Certamente, entrou em casa e procurou pelos cantos algum rastro dela, cheiro, livro, fio de cabelo, palavras. Apagou todas as conversas que tiveram em tantos meses. Fotos, poucas, foi fácil pôr na lixeira. E, assim, em menos de uma hora ele arrancou, em si, qualquer possibilidade de existência dela. Não terminou, isso não se faz mais. Hoje há formas mais práticas. Simplesmente ela deixou de ser. Será?

(Ilustração: Thomás Camargo Coutinho – http://www.flickr.com/photos/thomastaipa/

Deixe um comentário

Fechar Menu