Ulisses
A dúvida de Ulisses

Abre os braços, fecha os olhos, sente o cheiro molhado do mar. Logo em seguida, o menino abre os olhos e acompanha a onda batendo na praia, potente, irresistível. Entra? Não entra?

Sente nos pés a água, já enfraquecida pelo embate. Morna. Ondas fortes, nunca nadou em mar assim. Será que consegue passar a rebentação? Ou será espirrado para fora, na tentativa de furar uma onda? Joelho ralado, vermelho sangue, dor. Ou, ainda pior, pode ser tragado, não conseguir voltar, perder o fôlego, afogar-se.

Na iminência de ser ferido ou até morto, o recuo é imediato. Por outro lado, aquele cheiro de mar, àquela espuma molhando seus pés, quase em reverência… Se conseguisse dominar a onda, a aventura seria perfeita. Nem morte, nem joelho ralado, só risada e frio na barriga.

Repousa os braços ao longo do corpo, os pés se enterrando na areia. O estrondo das ondas, exibindo potência, torna-se um gemido quase inaudível da espuma macia. O menino é Ulisses no navio. Mas quem haveria de amarrá-lo para impedir o desfecho previsível? Fecha os olhos. Abre de novo. Decide: vai. Paciente, espera a sequência de ondas fortes para se aventurar. O grito da mãe chega abafado pelo barulho da natureza:

– O que você está fazendo?
– Ué, correndo para o mar.
– Sozinho, nem pensar. Quem chegar por último, perde. Um, dois, três e já!

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