por Luciana Pinsky
Quebrou a prateleira da geladeira. A maçaneta da porta da frente caiu. Vazamento no banheiro. Copo estilhaçado. Depois do terceiro, parei de contar. Saleiro, troco todo mês. O ferro de passar já era, assim como o aspirador de pó. A máquina de lavar, praticamente nova, não seca mais. Minhas roupas rasgam, a sola do sapato solta, a alça da mala descostura. O celular e o elevador travam, o sistema operacional do computador não atualiza mais. A bateria do livro eletrônico foi embora antes do fim da história e a do carro não durou um ano.
Enquanto isso, a bicicleta acaba de completar 25 anos. Nem pneu fura. Em perfeitas condições está também o livro de capa roxa que comprei e devorei no primeiro ano da faculdade. Ele ainda me emociona. E aqueles óculos escuros que ganhei outro dia prometem.
Equilibrando-me na ciclovia carcomida da cidade penso que tinha de ser assim mesmo. Afinal, as coisas são mais ou menos como os amores e as amizades.
(Ilustração: Thomás Camargo Coutinho – http://www.flickr.com/photos/thomastaipa/)
Este post tem 7 comentários
Silvia Escorel
12 nov 2019Lindo texto. Extraordinária bike!
Luciana Pinsky
14 nov 2019Obrigada, Silvia! Bicicletas são sempre extraordinárias. Inclusive as ordinárias!
Paulina Pinsky
13 nov 2019muito nostálgico este texto, Lu, talvez de coisas atualmente descartáveis… a bike continua respeitada ; ela resolve vários problemas de trânsito… pra quem se acostumou desde criança….
Luciana Pinsky
14 nov 2019Uh, ainda não me conformei com isso…
Luciana Pinsky
14 nov 2019Por mais trinta!!!
Luciana Pinsky
14 nov 2019Obrigada, querida Leny.
Vivi
7 jan 2020Baita texto, Lu! Adorei! Beijo Vivi
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